Compreender a dinâmica do treino de corrida

A gestão dos treinos na corrida

O atleta amador, que se iniciou na corrida e que procura crescer paulatinamente na modalidade, começa numa fase inicial por somar corridas, quilómetros e horas de treino até que atinge um patamar de rendimento relativamente regular e homogéneo. Isto acontece devido à rotina que se instala na dinâmica de treinos, motivo pelo qual os estímulos resultantes desses esforços deixam de ser suficientemente intensos para produzirem alterações significativas na performance desportiva.

A rotina

Acontece que, na maior parte dos casos, os praticantes acomodam-se a esse patamar de desempenho desportivo e isto pode acontecer por não ambicionar minimamente qualquer melhoria, ou por assumir esse ritmo como o seu “teto” de evolução. Não sendo propriamente um problema, apenas estou a realçar que, por a dinâmica dos treinos semana a semana ser mais ou menos idêntica, a estabilidade física acontece, não ocorrendo progressão.

Esta estagnação acontece, também, por vezes pelo acomodar a este processo, fruto de um dia a dia mais preenchido e com pouco tempo para pensar o treino ou perspetivar desafios diferentes, a cada corrida realizada. Apesar de parecer uma constatação um pouco “depreciativa” do processo de treino, o objetivo é chamar a atenção de que é sempre possível e viável fazer um pouco mais. E o ir um pouco mais além, muito mais que uma procura de evolução física, contribuirá para um melhor estímulo/carga de treino, com os devidos benefícios que isso acarretará para a saúde e bem-estar. Ou seja, o treino regular é importante e suficiente, mas se acrescentarmos algo diferente a esse desafio poderemos retirar benefícios inequívocos.

Séries, Rampas e técnica de corrida

São treinos mais exigentes e desgastantes, que requerem um determinado tipo de percurso e disponibilidade física. Contudo são três bons exemplos do que poderemos fazer para acrescentar qualidade à corrida.

Podendo estar mais ou menos acomodados a uma determinada rotina (e até custar a tomar a atitude para variar), acontece normalmente que quem o faz começa inevitavelmente a verificar melhorias significativas nas suas capacidades, acompanhada ao mesmo tempo por uma maior disponibilidade física geral.

As séries, sendo um processo que requer a manutenção de uma determinada intensidade ao longo de uma distância ou tempo pré-definido, são as tarefas de treino que nos ajudam a melhorar o ritmo de corrida e a melhorar o nosso pace (ritmo por km) médio de prova. Se pretendermos melhorar a nossa performance numa determinada distância, um dos passos mais importantes para alcançar tal objetivo é a realização de séries com regularidade.

Contudo, deparamo-nos muitas vezes com falta de força e com uma quebra demasiado acentuada no ritmo de corrida, quando enfrentamos um percurso mais acidentado, com subidas. Neste caso, o treino em rampas é o meio que nos ajuda principalmente a otimizar os nossos índices de força para que, à medida que evoluímos, consigamos ultrapassar as subidas num menor período de tempo e com menor dificuldade.

Sendo por ventura o tipo de treino mais descurado no meio amador da modalidade, a técnica de corrida é um processo lento e exigente de coordenação e execução técnica que permite melhorar o gesto técnico, ao mesmo tempo que ajuda o atleta a tornar-se mais económico, despendendo, por isso, menos energia ao longo das milhares de passadas entre treinos e provas. A experiência de realização de alguns exercícios de técnica de corrida inseridos numa parte de um treino, revela-se normalmente a parte de maior dificuldade do mesmo e, por vezes, a mais extenuante em termos de exigência física. Experimentem!

Nota final

Mais do que alertar para uma hipotética necessidade de executar um treino um pouco mais estruturado e diversificado, mesmo para atletas amadores, o objetivo destas linhas foi realçar alguns dos grandes benefícios que podemos obter através do recurso a diferentes estímulos, quer para a nossa saúde (pelas melhorias cardiovasculares induzidas, ou pela melhoria da coordenação, força, velocidade e flexibilidade, por exemplo), quer pela introdução de um elemento diferente a cada semana, de forma a combater a monotonia de todo o processo e evitar assim qualquer tipo de desmotivação no mesmo.