Doença celíaca: como conseguir uma alimentação adequada

O Meu Filho tem Doença Celíaca… ah? O que é isso? O que posso fazer? Ele pode usar os nossos talheres? Que sinais podem ditar que é celíaco? É a estas perguntas que vamos tentar responder.

O que é a doença Celíaca?

É uma doença que danifica o aparelho digestivo. É causado pelo consumo de produtos com glúten, que é uma proteína presente em alguns cereais, como trigo, centeio, cevada e aveia. Perante o seu consumo, ocorre uma resposta do sistema imunológico, com inflamação intestinal, na qual se cria uma espécie de “barreira” que compromete uma correta absorção de nutrientes.

Como se manifesta a doença?

Em crianças, os sintomas ocorrem, sobretudo ao nível do sistema digestivo, especialmente nos dois primeiros anos de vida, associados à introdução de novos alimentos na dieta.
Os sintomas mais comuns são:

  • Distensão abdominal e dor
  • Diarreia Crónica ou intermitente
  • Vómitos
  • Perda de peso
  • Palidez
  • Irritabilidade

A má absorção de nutrientes, durante os anos em que a nutrição é essencial para o crescimento normal da criança podem resultar em outros problemas, como atraso no crescimento e baixa estatura, puberdade atrasada e defeitos no esmalte dos dentes permanentes.

Que mudanças traz na vida de uma criança?

Apesar de a retirada de um determinado “ingrediente” da alimentação parecer, aparentemente, um processo simples, a eliminação do glúten é um desafio maior do que se pensa. Se fizermos bem as contas, está presente numa infinidade de produtos, passando pelo tradicional pão, tostas, massas, produtos de pastelaria, bolachas e até na maioria dos cereais de pequeno-almoço. As crianças com Doença Celíaca e os seus familiares mais próximos tornam-se verdadeiros entendidos na leitura e interpretação de rótulos! Chamamos aqui a sua atenção, pois nem sempre o nome “glúten” aparece da forma mais evidente. Hoje em dia já existem muitos produtos alimentares sem este ingrediente, que permitem uma substituição segura dos mais tradicionais, no entanto há que ter alguns cuidados.

Por exemplo, no que diz respeito a bolachas e cereais de pequeno-almoço, por vezes a versão “isenta de glúten” acaba por ter mais açúcares e outros aditivos alimentares, para preservar os sabores e texturas desejados!

Como saber afinal quais os produtos a consumir ou a rejeitar?

O maior medo que as famílias de doentes celíacos poderão enfrentar, a meu ver, será mesmo as visitas aos restaurantes ou outros locais onde não podem propriamente controlar os ingredientes que constam nas receitas.

E então como enfrentar as refeições fora de casa?

Quando um doente celíaco vai jantar fora, a sua maior preocupação deve ser a chamada “contaminação cruzada”. Imaginemos, então, que a colher usada para mexer um simples arroz (que o doente celíaco vai comer) foi a mesma que serviu para cozinhar uma massa com glúten. Ou que o óleo para fritar uns panados sem glúten é o mesmo que foi utilizado para fritar outros produtos com glúten na sua composição. É bem possível que possa haver a manifestação de sintomas a estas contaminações.

Por isso, um doente celíaco tem de conversar muito bem com o funcionário que o está a servir e consciencializar o mesmo quanto à gravidade da situação, pois mesmo em quantidades mais moderadas, pode estar favorecido o aparecimento de sintomas! O mesmo acontece nas festas de aniversário e, especialmente, quando a criança é muito pequena e não tem ainda perfeita noção dos cuidados a ter para se proteger. Talvez seja por isto que os pais destas crianças parecem ter reações de verdadeiro pânico quando os seus filhos são convidados para festas ou quando outras pessoas lhes oferecem alimentos. A verdade é que têm razão, pois, há um “sem-número” de advertências que têm de fazer às pessoas que organizam as festas para se assegurarem de que o seu filho não corre nenhum perigo.

As mudanças podem ser significativas (ou não), dependendo ponto de vista e de como a própria família encara todo o processo. Efetivamente, há vários cuidados a ter, vários produtos do quotidiano que não podem ser consumidos. Mas há possibilidade de comprar pão sem glúten, por exemplo, ou fazer umas bolachinhas à base de cereais e fruta. Entre tantas outras opções. Se calhar, o truque passa mesmo por preparar mais os produtos em casa, sempre com ingredientes escolhidos cuidadosamente, evitando todos aqueles que são altamente processados e cheios de aditivos alimentares.

Este artigo foi escrito pela Dra. Juliana Guimarães, nutricionista da clínica ADCA e do blog Onde é que tínhamos a cabeça?