Mas afinal de contas o que é o GLÚTEN?

A pedido de muitos leitores hoje escrevo-vos sobre o glúten.

Numa altura em que a dieta sem glúten está na moda, vamos esclarecer mitos e reforçar verdades sobre esta proteína tão famosa.

Na verdade, o glúten é um conjunto de proteínas que está presente nos cereais, nomeadamente no trigo, centeio, cevada, kamut e espelta.

À parte da Doença Celíaca (doença autoimune em que o organismo reage contra o próprio intestino causando lesão na sua mucosa cada vez que o doente celíaco ingere glúten) seria de pensar que a mais ninguém iria o glúten fazer mal, certo? Infelizmente, não tão certo assim.

O que se passa é que no trigo – um dos cereais mais consumidos pela população ocidental – vamos encontrar outros componentes menos simpáticos para o organismo. Para além do glúten, o trigo contém também lectinas e alguns inibidores enzimáticos que o podem tornar mais agressivo ao sistema digestivo dos não celíacos.

Estas lectinas são uma espécie de mecanismo de defesa da própria planta contra predadores. Pensemos nelas como nos picos de um ouriço cacheiro que o tornam um “petisco” difícil para os predadores. As lectinas tornam o trigo “um petisco” difícil de digerir para que possíveis insetos, etc. percam interesse nele. Provocam um leque de problemas digestivos aos intrusos que ousem ingeri-lo! Planta inteligente, certo? O problema é que estas mesmas lectinas são difíceis de digerir para nós também e, se a elas juntarmos o glúten e os inibidores enzimáticos, temos o gatilho acionado para uma maior probabilidade de desenvolver doenças autoimunes e distúrbios hormonais.

Por estas razões, existem inúmeras pessoas Não Celíacas que são afetadas pelo consumo de trigo e daqui surge a designada Sensibilidade ao Glúten Não Celíaca que, ao contrário da Doença Celíaca, não possui ainda análise específica com diagnóstico positivo e que, por essa razão, tem gerado tanta controvérsia.

Vamos então esquecer modas e dietas e fazer a seguinte questão: se ficam constantemente maldispostos cada vez que comem feijão ou citrinos por exemplo (ou outro alimento qualquer), vão a correr fazer análises que comprovem alguma intolerância? Não. Simplesmente identificam o alimento, aceitam a dificuldade em digeri-lo e tentam evitá-lo.

Estejam atentos aos seguintes sinais quando ingerem trigo e outros cereais com glúten: barriga inchada, diarreia ou obstipação, problemas articulares, problemas de pele (dermatites), cansaço constante, dor abdominal ou flatulência.

Se têm alguma destas queixas, têm tudo a ganhar em experimentar uma dieta sem glúten. Terão também enormes benefícios uma vez que os alimentos à base de farinha de trigo são maioritariamente de alto valor glicémico e muito pobres em vitaminas e minerais.

Claro está que, como isto virou moda, agora tudo o que tem rótulo Gluten Free passou de repente a ser tido como saudável, mas a maior parte não deixa de ser rico em açúcares e gorduras hidrogenadas. Por isso, estejam atentos. Sejam simples e não processados.