O treino e a perda de peso: saiba qual o melhor processo

Na sociedade atual verifica-se uma crescente preocupação com o tema do excesso de peso. Assistimos, constantemente, a campanhas de sensibilização para os riscos relacionados com a obesidade, a vida sedentária, o stress e as novas tendências de hábitos alimentares. No entanto, o excesso de informação e a emergência de novas tendências no setor da nutrição e da atividade física geram, normalmente, confusão nos praticantes e até em alguns profissionais da área do treino. A questão da perda de peso deve ser abordada de forma integrada, com alterações nos hábitos de vida e alimentação. No presente artigo, vou focar a temática do treino.

Atualmente, de uma forma geral, a sociedade pauta-se pela necessidade exagerada de rapidez em atingir resultados. No treino, assistimos a esse problema e, por vezes, de forma preocupante. Muito se diz que a melhor forma de perder peso é realizar treino intervalado ou o famoso HIIT (high intensity interval training) e este tipo de treino já caiu nas graças de todos, praticantes e profissionais. Não querendo esmorecer o entusiasmo em torno desta tendência, acredito que a abordagem da perda de peso através do treino não pode ser vista de forma tão generalizada e linear.

A primeira chamada de atenção prende-se com questões de segurança. O praticante que deseja perder peso, normalmente, não tem hábitos de atividade física e, para além do óbvio excesso de peso, poderá ter outros fatores de risco associados (hipertensão arterial, Diabetes tipo II, problemas articulares, taquicardia, entre outros). Nestes casos desaconselha-se este tipo de treino.

Neste momento, o leitor deverá estar a perguntar: “E se o praticante puder realizar treino de alta intensidade com segurança? Aí já é aconselhável?”. Não necessariamente. Passo a explicar:

O treino de alta intensidade utiliza fontes de energia de alta potência para corresponder às necessidades como o glicogénio (proveniente do açúcar) e fosfocreatina em detrimento da gordura. Até aqui está tudo bem, porque esse treino visa aumentar a taxa de metabolismo e utilizar, nas horas seguintes ao treino (8 a 36 horas), as reservas de gordura para fazer jus às maiores necessidades do organismo. É aqui que surge a principal falha deste tipo de treino. Para conseguirmos utilizar as reservas de gordura existentes no corpo, temos de ter uma boa capacidade oxidativa. Essa capacidade consiste em tornar capaz de ser utilizada, como substrato energético, a gordura existente no corpo através do processo de beta oxidação.

Para entendermos este ponto, imaginem uma grande quantidade de crude. De nada serve se não for refinada e transformada em gasolina! Logo, este processo químico requer uma boa quantidade de oxigénio transportado no sangue para ser levado ao músculo e ser corretamente utilizado por este último.

Essa capacidade oxidativa consegue-se e melhora-se com o treino aeróbio de baixa e moderada intensidade. Podemos considerar este treino como o alicerce necessário para podermos progredir e tirar proveito dos benefícios do HIIT, enquanto garantimos uma consistência e durabilidade dos resultados. Quantos praticantes já experimentaram o dissabor de terem passado por tantos sacrifícios no treino e rapidamente estagnarem ou regredirem devido à má periodização e timmings incorretos?

Podemos então dizer que não existem fórmulas mágicas nem “melhores formas” de perder peso. Existe, sim, uma ordem lógica de treino que obedece a pressupostos fisiológicos e verificação de respostas corretas e adequadas aos praticantes.

Este treino deve ser acompanhado de estimulação muscular com cargas moderadas e alternando grupos musculares para a perda de peso generalizada. Quando pretendemos a perda de gordura localizada, o ideal é o treino com resistências mais fortes e com esgotamento local.

Em jeito de conclusão e para encaminhar o leitor no processo, devemos começar com uma avaliação inicial exaustiva, realizada por um profissional de educação física. De seguida, passar por um processo de treino aeróbio e de cargas moderadas com alternância no treino muscular que deverá durar pelo menos 12 semanas. Só depois, poderemos avançar para os badalados treinos intervalados com estímulos intensos e cargas musculares fortes.

Procure sempre um profissional qualificado e credenciado que não queira pressas, mas sim um processo que respeite a ordem natural da fisiologia.

Este artigo foi escrito por Nuno Cerqueira , personal trainer no Inspire Studio, no Porto.